domingo, setembro 24, 2006

Se...


Se és capaz de manter tua calma, quando todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.
De crer em ti quando todos duvidam, e para esses, no entanto, achar uma desculpa.
Se és capaz de esperar sem te desesperares, e enganado, não mentir ao mentiroso.
Ou, sendo odiado, ao ódio te esquivares, e não ser bom demais nem pretensioso.
Se és capaz de pensar, sem que a isso só te atires, e de sonhar, sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, tratar da mesma forma a esses dois impostores.
Se és capaz de sofrer a dor de ver transformadas em armadilhas as verdades que disseste.
E estraçalhadas as coisas por que deste a vida, e refazê-las com o bem pouco que te resta.
Se és capaz de arriscar numa única parada tudo quanto ganhaste em toda tua vida.
E perder e, ao perder, resignado e sem dizer nada, recomeçar do início
De forçar coração, nervos, músculos, tudo, e dar seja o que for que neles ainda existe.
E persistir quando, exausto, ainda te resta a vontade que te ordena: Persiste!
Se és capaz de, entre a plebe não te corromperes, e entre reis não perder a naturalidade.
E de amigos, bons ou maus, te defenderes, e a ambos poder ser de alguma utilidade.
Se és capaz de dar, segundo por segundo, ao minuto fatal todo valor e brilho.
Tua é a terra com tudo que nela existe, e – o que é muito mais – és um Homem, meu filho!
Rudyard Kipling