segunda-feira, setembro 24, 2007

Mais um dia na vida do Superman


Sexta-feira, 16h, uma loucura de trânsito.


Paro no semáforo e olho para o lado. Vejo uma criança de 3 anos em pé, no banco da frente do carro, sem cinto de segurança.


Olho pra cara da mãe da criança e não é a das mais amistosas.


Tenho que fazer alguma coisa. Sou um super-herói. Super-heróis não hesitam, senão não seriam heróis; senão não usariam capa e seriam à prova de balas.


Vou falar, mas lá vem bala! Ela vai dizer que a filha é dela, que eu não tenho nada com isso, me chamar disso e daquilo outro, mas a situação está bem definida: eu sou o herói, a vítima é a criança e a bandida, a mãe dela.


Falei. Veio chumbo. Disparou olhares e palavras. Nada de mais. Estou acostumado e nem senti. O objetivo maior foi alcançado: a criança foi pro banco de trás.


A invulnerabilidade é a compensação da exposição.


Mais um dia na vida do Superman.


Para o alto e avante!

quarta-feira, setembro 19, 2007

O trabalhador e o investidor

Outro dia me perguntaram se eu sabia de uma oportunidade de emprego.


Respondi que ia ver se conhecia alguém que estivesse precisando daquele tipo de profissional.


A pessoa, talvez usando da liberdade que tem comigo, pediu a fórmula mágica da oferta e da demanda: “Mas tem que ser um emprego que ganhe muito e que trabalhe pouco, viu?”.


Devolvi a ousadia em tom de brincadeira (com o devido respeito a uma minoria): “Você não quer ser juíza de direito não?”.


E ela foi ainda mais longe e retrucou: “Nãaaoooo.... pra isso tem que ser formado e passar em concurso!!! É muito difícil”.


Já impaciente com a folga, disse: “Então entra pra política, vai ser candidata a alguma coisa, ora! Pra isso não se exige qualquer formação e paga-se bem até demais”.


E ela ainda me respondeu, desanimada: “Ahhh... mas pra isso precisa ter muito dinheiro e isso eu já não tenho!”.


Chegamos ao fim da conversa comigo sugerindo a ela investir na bolsa… na bolsa giratória nas esquinas da cidade, quem sabe assim ela chega a atuar um pouco em cada uma dessas áreas.


Ela abriu um sorriso animado e os olhos brilharam, como se já antevendo o sucesso do empreendimento.


Para o bom entendedor, esses parágrafos resumem a situação do país.

terça-feira, setembro 11, 2007

Meu deus e o seu deus


Se pessoas entram em conflito para mostrar que seu deus é o melhor, quem tem razão?


Ninguém.


Qualquer conflito, permeado da capacidade de ferir alguém, com sentimentos de ódio de “uns” contra os “outros”, é a plena confirmação de que o conflito não é religioso, mas odioso, e nenhum dos dois lados tem razão.


Isso não parece óbvio? Então por que ainda se mata, se rouba, se estupra, se abandona e se persegue, enfim, tanto de errado, sob a justificativa do nome de Deus?

sexta-feira, setembro 07, 2007

A parada do 07 de setembro

Não tinha entendido porque no dia 07 de setembro há uma “parada”, se na verdade há um desfile, o que se faz marchando, andando, se mexendo.


Só depois que eu vi a quantidade de ruas que serão bloqueadas para o evento, percebi que a parada não é a dos militares, é a cidade quem vai parar.


A cidade vai parar porque não teremos como nos deslocar pra lugar algum. Vai ficar tudo parado, só passarão os soldados, os bombeiros, os cachorros, os aviões, as armas, os foguetes, os tanques e os escoteiros.


Que o país atualmente está uma parada eu sei, só não sei que razões históricas isso tem a ver com os militares, afinal, quem proclamou a independência foi um imperador, que não era do exército. Seria mais lógico termos uma parada de militares no dia da república, essa sim, proclamada pelo Marechal Deodoro.


Polêmicas à parte, em nada influi pra mim esse dia. Diante da conjuntura econômica mundial, não reflito mais se somos oficialmente independentes ou não. Prefiro refletir se somos ainda subdesenvolvidos ou não mais.


A única coisa boa no dia 07 de setembro, fora ser feriado, é o aniversário da minha prima, para quem aproveito a oportunidade para mandar aquele beijão de felicitações.

segunda-feira, setembro 03, 2007

Eu tenho medo


Eu tenho medo da violência, de bandido malvado, de gente ruim, de ser a próxima vítima.

Mas tenho mais medo da falta de segurança, da impossibilidade de auto-defesa que o Estado tirou de mim e a exerce com o monopólio da incompetência.
Tenho mais medo da sensação de impunidade dos malvados.
Tenho medo porque não há quem faça por nós.

No mundo animal, quem não é predador, é presa.
Num mundo sem heróis, quem não é bandido, é vítima.
A diferença entre aquele e o nosso mundo é que aqui a política ainda pode fazer a polícia funcionar para uns e outros.

E o resto?
E quem não tem um conhecido de um conhecido que conhece algum policial de verdade?
O resto que escolha ser predador ou presa.

Acontece que há mais gente escolhendo deixar de ser gente para ser predador, do que gente escolhendo ser mais gente ainda para ser herói.

Num mundo onde todos são predadores, impera a barbárie e logo-logo ele se extingue.
Num mundo onde todos são heróis, não há presas, mas colaboração e progresso.

Eu tenho medo que o dia dos heróis chegue tarde demais para essa Terra.