Seria tão bom poder prever o futuro. Jogar na sena e ganhar muito dinheiro pra ajudar pessoas. Não sair de casa pra não sofrer um acidente aéreo ou sair, para que o seu prédio não te mate ao desabar. Saber o dia em que você vai encontrar o amor da sua vida e caprichar no visual ou se nunca vai encontrá-lo, e se conformar com isso.
Mas não acredito em previsão do futuro. Acredito em futuro provável. Porque as variáveis são inúmeras. Para acontecer um fato que foi “previsto” seria preciso o alinhamento de um sem-número de variáveis, o que dificilmente ocorre, fazendo sempre divergir a previsão do real.
Além disso, prever o futuro, acreditem, pode trazer mais agonia do que tranqüilidade, e nem todos têm condições de lidar com o peso da informação.
Imagine-se sabedor de um fato grave, com uma catástrofe, e não ter meios de interceder e avisar a tempo. E se pudéssemos avisar, quantos acreditariam e quantos deixariam de agir normalmente até o desfecho fatal?
Você viveria tranquilamente por saber e não ter avisado? E se isso acontecesse uma vez por semana, viraria trauma ou banalidade em seu coração?
Imagine prever a descoberta de um continente, a dizimação de uma civilização ou o surgimento de um grande tirano.
Como não intervir na autodeterminação e crescimento espiritual daquele povo? Como evitar as lições advindas mesmo das coisas ruins que nos acontecem? É preciso a escuridão pra enxergar a luz.
Imagine-se sabedor de um fato grave a você ou a alguém que lhe é caro, como uma doença ou acidente. Você manteria a calma e deixaria as coisas acontecerem ou tentaria, de todo modo, alterar o futuro?
É será que, nessa mera tentativa, não se estaria já alterando o futuro para outros fatos, que terminariam redundando no mesmo desfecho fatal?
Por essas e outras acho que é melhor a incapacidade de prever o futuro. O bom, a graça da vida, é viver a dúvida, o exercício responsável da escolha a cada momento, como se ele fosse o último.
O bom é o amadurecer das nossas decisões e condutas, é ter outras chances de acertar e aprender com os erros, é passar a experiência adiante, e, com isso, exercer a sensibilidade do “futuro provável”, como se víssemos uma tênue luz no fim do túnel a nos indicar um provável caminho a seguir, mas sempre de acordo com nossas escolhas.
Mais do que em “fatalidade”, acredito em “sensibilidade”. Essa sim, nos levará a um futuro melhor. Isso eu posso prever.
Boa sorte a todos que estão desenvolvendo sua estreita ligação com os super-seres que são.