quarta-feira, novembro 19, 2008

Playing God



É tão bom brincar de Deus.

Poder julgar as pessoas sem dó nem piedade.

Ser o primeiro a criticar e o último a elogiar.

Não ter reservas de nossos atos quando se trata do outro.

Começar a autocrítica pelo próximo e esquecer de nós mesmos.

Ter forças para enfrentar, mas fraquejar ao dar apoio.

Só abrir a boca pra falar mal e que o silêncio trate do resto.

Ser indulgente e generoso somente consigo próprio.

Esquecer que o dedo que aponta para o próximo está sobre três em nossa direção.


É muito bom brincar de Deus nesse pequeno universo chamado “meu-mundo”.

Em “meu-mundo”, eles reinam e são onipotentes.

Lá é a terra onde nada tem compromisso com nada, onde não se presta contas a ninguém, onde o sol sempre está a brilhar, pois nuvens não se colocam sobre suas cabeças.


Não é à toa que dizem: “quer conhecer alguém? Dê-lhe um mínimo de poder e ele se mostrará”.


Um dia esses tiraninhos levantam a cabeça e têm um vislumbre diferente.

Vêem o “seu-mundo” tão “mundinho”, tão pequeno.

Algo chacoalha o “seu-mundinho” e eles se questionam se esse mundinho é tão universo assim.

Quando esses sóis não brilham mais, quando esses minutos de poder passam, quando os “seus-mundinhos” ficam microscópicos diante da tamanha cegueira; passam então a enxergar o “algo mais”.


Em época de “ensaio sobre a cegueira”, faço uma reflexão e abro os olhos.

Vejo cegos saindo de um vazio existencial e caindo num buraco na vida.

Vejo os cegos pelo poder não poderem mais nada.

Vejo olhos bonitos e luminosos que não têm nada por trás.

Vejo os tiranos dos “mundinhos” enxergarem o quanto nada vêem.


Mas vejo também o quanto fui cego.

Não via a falsidade, os verdadeiros interesses, a manipulação.

E me dou um desconto. Desconto porque sou ingênuo, de bom coração, de pensar o melhor de todos sempre.

E sei que quem erra assim, na verdade não erra, mas acerta errando, e expurga suas próprias cegueiras, abrindo as vistas para outros planos.

Sei também que no “mundo onde todos enxergam de verdade” isso é o que verdadeiramente conta.


Boa sorte aos que têm consciência das próprias cegueiras, pois isso já é enxergar.


domingo, novembro 16, 2008

If you don´t know me by now...


Há uma letra de música do Simply Red que adoro e que vem muito bem a calhar agora.


"If you don´t know me by now, you will never never never know me", numa tradução livre e simplificada quer dizer "se você não me conheceu até agora, não irá mais".


É surpreendente constatar o quanto o passar do tempo e os fatos da vida não são capazes de fazer com que as pessoas se conheçam completamente. Chega um dia em que constatamos que se esse conhecimento não chegou até agora, não chegará mais. A paciência acaba e a sensação de perda de tempo reina.


São surpresas desagradáveis, problemas repetitivos, expectativas insatisfeitas, pesadelos recorrentes; tudo inexplicado, ante o tanto que se conhece do outro, ante o tanto de problemas que se pode evitar – mas não se evita.


Relacionamentos assim viram “samba de uma nota só”; e Jobim não merece essa homenagem.


Se conhecer bem o passado prepara para o bom futuro, quando esse futuro não chega é hora de mudar o presente. É aí que se aplica o "se você não me conheceu até agora, não irá mais".


Se é pra falar de música de novo, prefiro citar os Rolling Stones: pedras que rolam não criam limo.


Limo não é uma coisa boa pra mim. Vou rolar bastante e tomar um banho de rio pra limpar o grude impregnado. Quem sabe lá eu encontro aquele cabeludo ruivo e agradeço por ter me aberto os olhos para o fato de que tudo na vida tem sua hora, seu tempo e seu limite.


Freud dizia que só o conhecimento traz o poder. Que esse conhecimento chegue, mas que ele só traga o poder de fazer o bem.



segunda-feira, novembro 03, 2008

Mudanças



People don´t change”, diz o doutor House, mas será mesmo que pessoas não mudam? Será que os fatos se passam, as dores se desdobram, experiências e decepções se assomam e não somos capazes de mudar?



Quando decepcionamos ou causamos uma boa surpresa a alguém, o quanto disso reside em nós mesmos e o quanto reside nas expectativas que ela mesma nutria a nosso respeito? E o que se pensa a nosso respeito é 100% criado por nós ou há alguma participação de nosso observador na construção dessa imagem?



Eu sou eu e minhas circunstâncias. Se elas mudam, mudo eu; se eu mudo, elas se alteram. Sou eu e meus “ontens” e à medida que os faço diferente, o amanhã também será.



Acredito em fases, em momentos felizes e infelizes, em períodos que pelas contingências da vida nos afastamos de nossa verdadeira essência boa, de nosso “centro vital”, mas que com o tempo ou as experiências certas retomamos o rumo. Só não creio que o “mau” vire “bom” de uma hora pra outra nem que o “bom” regrida à “maldade”.



Dizer que pessoas não mudam é negar o próprio sentido da vida, que é aprender e evoluir incessantemente. Claro que há aqueles que insistem em suas posições, em suas opiniões, em seus comportamentos, e não aceitam reavaliá-los ou se reciclar; mas isso é questão de querer (ou de não querer) mudar; não que a mudança em si seja impossível. Não podemos julgar que não há mudança só porque alguns não acreditam nela.



Eu acredito na mudança. E aquele que muda – ao contrário de quem se acomoda no “eu sou assim mesmo e pronto” – e encara o desafio de se fazer melhor, de crescer, de se superar, em nome do que acredita e ama, só tem a ganhar, portanto, merece crédito, merece uma segunda chance.



Boa sorte a todos que conseguem exercer uma das mais marcantes características da espécie humana, que é a adaptação, e assim crescer, evoluir e contribuir para o todo.