quarta-feira, junho 11, 2008

Solidão


Pode parecer paradoxal no dia dos namorados falar de solidão, mas eu mesmo este ano estou sozinho e isso não quer dizer que me sinta só, solitário; estou apenas sozinho, por enquanto acompanhado de mim mesmo.


Do muito que vi, do pouco que sei, pior que solidão-sozinha é solidão-acompanhada: o estar junto, mas ser incompleto. Por isso tenho ficado tão preocupado com algumas posturas sobre relacionamento.


Por medo da solidão-sozinha, muita gente se submete a estar com alguém apenas por estar. Apenas para não ficar sozinho, não se põe fim ao que perdeu a razão de ser. Por medo da solidão-sozinha, há uma espécie de busca frenética “por alguém” no meio da multidão que nos dê alento. E paga-se bem. Pessoas se colocam numa espécie de “bolsa de valores”, subindo suas cotações, inflacionando o mercado ou gerando amargas taxas de juros a curto prazo. E no fim, quem tem o “seu” não larga o osso de jeito nenhum, como se fosse a “última coca-cola do deserto”.


Sei bem que a solidão-sozinha é dura. Não é fácil estar sozinho. A solidão não tem pressa em destruir o nosso ânimo, em amolecer nossos brios e baixar nossos padrões e auto-estima. Os poetas descrevem bem esse mal. Para Marisa Monte, solidão “é lava, que cobre tudo”, e em Alceu Valença, “é fera, devora, é amiga das horas e prima irmã do tempo”.


Mas, como acredito na dualidade, não há mal que não traga um bem; não há tempestade que não anteceda o sol; não há noite que não termine em amanhecer. Na solidão-sozinha é possível ter mais contato com alguém bastante interessante, de quem nos perdemos há muito tempo, mas que tem tanta coisa a nos revelar: nós mesmos.


Entrar em contato consigo próprio é altamente propício, dá auto-conhecimento, auto-controle, diminui a ansiedade, balança as experiências vividas e nos prepara para um futuro melhor. Quem não fica um pouco só, também não se conhece, não desenvolve a própria força, não desapega das muletas emocionais. Portanto, dificilmente se poderá ficar apto a realmente conhecer um outro alguém.


Se, para casar, é preciso coragem, muito mais é necessária para se separar, para por fim ao que não está dando certo. Por isso que, diante do “mal com ele, pior sem ele”, respondo “antes só do que mal acompanhado”.


Não é que a gente se baste e que não precise de ninguém. Muito pelo contrário. É que cada minuto vivido com a pessoa errada, é um minuto perdido com a pessoa certa. O medo nos paralisa, nos impede de viver e permanecemos na ilusão e na perda de tempo.


Boa sorte a todos que não desperdiçam um minuto de suas vidas e já entenderam que só formamos “dois” unindo “um” e “um”, e que, mais importante do que estar namorando, é estar enamorando. Então: feliz dia dos enamorados!