segunda-feira, junho 25, 2007

Lixo Sonoro


Durante a moda das sertanejas, eu não via a hora de passar para ter paz.


Durante a moda do axé, eu não via a hora de passar para ter paz.


Durante a moda do calipso, eu não via a hora de passar para ter paz.


Depois que a moda do pseudo-forró chegou, perdi a esperança de que o mal-gosto passasse.


O mais interessante do mal-gosto é a sua feição democrática: o mal-gosto sempre se faz presente; você querendo ou não. Ele é de fácil acesso a todos e rapidamente se propaga. Até quem não gosta fica obrigado a ouvir tanta porcaria que se produz hoje em dia.


Outra coisa interessante é o altruísmo do mal-gosto: quem escuta não sabe ouvir baixo, tem que compartilhar com a vizinhança inteira. Às vezes o altruísmo é tanto que acontece o que se deu hoje, quando contei três fontes sonoras diferentes do mesmo gênero de subcultura: o vizinho do lado, um carro em frente de casa e uma casa mais ao longe.

É uma diversidade de bandas com nomes de peças de roupa, comida, estado civil ou pretensões sexuais, sempre ligadas ao nome forró, mas que de forró não têm nada (mas não conta pra eles ainda). Somente uma batucada irritante, grunhidos e barangas oxigenadas dançando.



Ficou uma loucura de um doido só: eu, clamando por silêncio e paz.


Os eruditos não, são muito egoístas: você jamais vai encontrar alguém ouvindo música de qualidade em altíssimo volume, em carros de som, nos toques de celular, na casa do seu vizinho às altas horas da noite, em "sinfonias fora de época" espalhadas pelo país.


Tá certo... é época de São João, mas do jeito que tá, nem santo aguenta.

quarta-feira, junho 13, 2007

Gentileza de menos, gente lesa demais

Com a minha super-visão, procurei as causas de um trânsito tão ruim quanto o daqui de Smallvile.
Será que o problema está na engenharia do tráfego?
Procurei nas ruas e não achei nada.
Estaria na superpopulação automobilística?
Olhei nos carros e não achei nada.
Será que é nos motoristas?
Procurei na cabeça deles e não achei nada.
Só então percebi que tinha achado o problema.
Não há nada na cabeça dos motoristas!

Essa praga urbana causa um mal contraditório: a pessoa fica tão lesa que nem consegue ser gentil.


Os carros com computador de bordo têm um QI maior do que o de alguns condutores. Os antigos são bem mais acelerados que os donos.


O que vejo nas ruas são motoristas conduzidos pelos carros; completamente entregues, à mercê deles. Acho que no CRV deveria constar o nome do carro no campo “proprietário” e o nome do sujeito na “especificação do veículo”. Afinal, quem conduz quem?


Não falo nem de andar rápido, falo apenas de andar, com um mínimo de eficiência: fechar a boca pra dirigir, fazer cara de quem sabe o que está fazendo, passar a terceira de vez em quando, sair no verde e não no amarelo, se hipnotizar com o celular ou se maquiar em outra hora, não entulhar o trânsito com seu bate-papo no sinal, respeitar a faixa rápida e faixa lenta (têm esses nomes com esse propósito mesmo), dar pisca-pisca, olhar pelo espelho, dar passagem, não fazer curvas a partir do meio da rua, sair da faixa dupla. Essas coisas tão elementares. É pedir demais?


Pior é quando, ao invés de não ter a menor idéia do que está fazendo, o o sujeito faz de maldade.
Aí não tem engenharia de trânsito que dê jeito, buraqueira que sacuda nem buzina que acorde.
O egoísta torna-se tão egoísta que não distribui seu egoísmo e continua agindo como se as ruas fossem dele, cantando "quem é o gostosão daqui, sou eu, sou eu, sou eu".


Conseguir chegar em casa depois de um dia de trabalho é outra luta.
São apenas seis quilômetros, mas se alinharmos os retardados que se vão pelo caminho, daríamos duas voltas pela Terra e atingiríamos a Lua.


Cadeia ... Não… Cadeia não… Uma jaula até que cairia bem, mas cadeia não resolve. Auto-escola para eles!

segunda-feira, junho 04, 2007

Flanelinhas


Há uma espécie de praga urbana que parasita os bens públicos como se fossem seus e se alimenta de dinheiro sugado das pessoas que param em seus domínios.


É um ser aparentemente calmo, mas cuidado, não o provoque porque ele é muito feroz. Defende o “seu” território com unhas-e-dentes (e facas e revolveres e capangas e ameaças…).

Parece ser invulnerável, porque o Estado, guardião do bem público, senhor do monopólio policial, judicial e legal; nada faz para nos salvar dessa praga.


Pode ser reconhecido por portar sempre um trapo característico, na mão ou no ombro (daí o seu nome científico), e também pela emissão de sons bem próprios, como “dá uma olhadinhae, doutor”, “trocadinhaeee... armenos dez centavos”, “lavadinhaeee…”, “vem, vem, vem, aeee, podeixar…”; ou mesmo um simples assovio “fiiiiiiiu” com o polegar para cima, diante de um sorriso amarelo; significando que você está sob seu poder.


Essa espécie tem variações muito perigosas. Uns são apenas pais de família fazendo o errado em busca do sustento, outros são verdadeiros lobos em pele de cordeiro.


Os camuflados de simplórios lavadores de carros, enganam desavisados, que, ao notar a falta do estepe, do macaco, do som, do livro que estava no banco de trás ou das moedas largadas no console; já é tarde demais.


Outros sabem de todos os seus movimentos e indicam aos chacais quais as melhores investidas.


Uma variação habita os semáforos, como lavadores de vidros, aguardando apenas a hora do melhor “bote” naquilo que você der mole.


Criminosos à parte, o flanelismo é um excelente investimento: o sujeito gasta apenas R$ 1,00 pelo trapo pendurado no ombro e com isso submete a população a sustentá-lo pelo resto da vida, ou seja, você tem que pagá-lo para usar o que já é seu, as ruas e calçadas.


Pagar por pagar, prefiro mil vezes um shopping, porque estou pagando pelo uso do espaço de alguém e não por aquilo que já é meu, e ainda haverá quem se responsabilize por qualquer dano. De qual risco o flanela nos preserva, a não ser dele mesmo?


Foi criando o risco e vendendo a falsa segurança que a máfia começou, nos EUA. Ninguém os conteve e vejam onde chegaram. A praga virou pandemia. Vamos resistir enquanto há tempo!