quarta-feira, julho 18, 2007

O escorregão



No país da banalização, até as tragédias se tornam banais.

No país que se vangloria de não ter terrorismo, passamos a temer a incompetência que tira vidas. Quem viaja de avião tranqüilo hoje em dia?

Saber quem são terroristas é fácil, eles se anunciam na tv. Difícil é detectar incompetentes, que fazem questão de se manter incógnitos, escorregando na também incompetência dos encarregados de puni-los.

O escorregão de fazer-mal-feito fez um avião lotado escorregar com duas centenas de vidas para a morte.

O escorregão vai reinar por décadas, em outro empurra-empurra, pondo a responsabilidade um lado para o outro. Novamente escorregarão CPI´s e processos judiciais, só não escorregará pela nossa goela abaixo o amargo absurdo de ver um país como o nosso sendo incapaz de ter transporte aéreo digno.

Para nós, fica a triste lembrança de que a vida é essa vela ao vento. Num simples escorregão, passamos daqui para ali, deste mundo para o outro. Num simples escorregão, a maravilha da engenharia vira destroço e o belo receptáculo da vida, apenas mais um corpo carbonizado no meio de tantos.

Além de contar com um mínimo de justiça dos homens, para mim fica inabalável a fé em Deus, de que nada é por acaso e, ao seu tempo, terá explicação e conforto.

Acendo uma vela aos que partiram nas chamas, aos que ficaram aqui com o coração ardendo e aos que ainda não entenderam o peso de suas responsabilidades neste mundo.

terça-feira, julho 03, 2007

Juízo Final ou final do juízo?


Há um antigo adágio que diz: "enquanto o espírito do mal arma o tigre com garras, Brahma dá asas à pomba".

Tantas notícias ruins nos rodeiam que pensamos estar beirando o famoso "juízo final" ou o "fim dos tempos".

Há guerras, terrorismo, fome, doenças, desespero, catástrofes, violência, corrupção.....

Mas sinto que algo mudou de uns tempos pra cá. A notícia ruim tem vindo com um algo bom aderido: um ensinamento mais claro, uma volta por cima, uma compensação, um exemplo de vida. Enfim, o que fica não é mais apenas uma má impressão de um fato lamentável, mas algo a se refletir; o que deixa mais claro o equilíbrio entre o bem e o mal e o nosso livre-arbítrio no meio.

Numa época amarga em que ainda temos que assistir playboys desocupados espancando uma trabalhadora doméstica, também vimos aulas de humildade, de elevação espiritual, de um discernimento que independe de ter ou não condições materiais de vida.

A empregada doméstica agredida ensinou seu filho a perdoar seus agressores, não propagou o mal e a vingança, cortando a semente no nascedouro. Ela educou seu filho quando os pais de seus agressores não o fizeram. Ela mostrou que Deus bate à porta do rico e do pobre, mas nem todos o deixam entrar.

Ao encontrar o taxista que a salvou ainda soltou outra pérola: "ele fez o bem sem olhar a quem, sem se preocupar se eu era prostituta ou não".

É assim mesmo. Não é preciso ter ou ser mais ou menos para ser pior ou melhor do que somos, basta querer, se importar, agir. O caminho do mal é sedutor e fácil, de vida curta e destino triste. O caminho do bem é longo, mas a paisagem tem flores e pedras, bons companheiros e revela surpresas recompensadoras.

Penso que apenas o final de juízo de cada um de nós poderá levar o todo ao juízo final, ao passo que demonstrações de elevação moral como essa levará o planeta a um plano mais elevado.