sexta-feira, março 14, 2008

Conjunto habitacional



Enquanto andava pelas ruas do conjunto onde moro, observava as casas e percebi algo de óbvio, mas que me chamou mais ainda a atenção depois de assistir à entrevista de Ignácio de Loyola Brandão ao Professor Pasquale, onde aquele dizia que, na condição de cronista há mais de 10 anos da Folha e morador da cidade de São Paulo, não lhe poderia faltar assunto para escrever, pois o cronista é, sobretudo, um observador sensível do todo a sua volta.


Pois bem, voltando às casas do conjunto, percebi que elas eram feitas inspiradas em uma idéia comum, sob a mesma planta, têm originalmente a mesma área construída, a mesma altura; enfim, eram essencialmente iguais: casas de conjunto.


Percebi também que, com o passar do tempo e dos moradores, elas foram mudando e se diferenciando umas das outras: as cores, as obras de ampliação, as melhorias, os azulejos, a iluminação, o piso, as plantas, as árvores, os animais, galinheiros e canis. Umas até ganharam segundo andar!



Outras, por sua vez, foram sendo descuidadas, ficaram com as paredes descascadas, rachadas ou manchadas; receberam grades ou muros altos, que não se via dentro; outras acumulavam entulhos na varanda e nos quintais abandonados, dando-lhes um ar mais estragado ainda.


Esse observar de casas sugeriu-me uma comparação com as pessoas.



Assim como as casas do conjunto habitacional, as pessoas nasceram iguais perante a vida, mas com o tempo vão conquistrando atributos ou se depreciando por falta de cuidados.


Há pessoas que “enfeiaram” por fora, que perderam suas cores, que estão com suas paredes rachadas, que ergueram em torno de si muros de pedras brutas, com grades em forma de lanças, para protegê-las de algo do mundo exterior.


já outras apresentam uma fachada de beleza incompatível com a feiúra do interior. Há também pessoas coloridas, de tintas fortes, que se integraram com a natureza, que são bonitas interna e externamente, que, apesar das janelas de vidro, nunca foram usurpadas, e que já construíram o seu segundo andar (e quem sabe o terceiro).


Para as pessoas que se depreciaram por falta de cuidados, assim como as casas, nada que uma reforma não resolva.



As outras, que receberam melhorias e aumentaram seu “valor”, devem pensar: de que adianta serem belas e conservadas se à sua volta outras ainda precisam da dita “reforma”? O “conjunto habitacional” esta interligado e a melhoria de um elemento influi na do outro, assim como a depreciação; afinal, é o todo que conta.


Então, vamos continuar a edificar as nossas moradas... sempre e sempre..


Natal/RN, em 11 de outubro de 2005.

segunda-feira, março 10, 2008

Estar sozinho...


Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o inicio deste milênio.
As relações afetivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor.
O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos...
Individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.
A idéia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo, está fadada a desaparecer!
O amor romântico diz que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos.
Muitas vezes acontece a despersonalização quase sempre da mulher.
Ela se abandona para se amalgamar ao homem.


A palavra de ordem deste século é parceria.
Estamos trocando o amor de necessidade, pelo amor de desejo.
Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente.
Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas.
Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras.
O homem é um animal que vai mudando o mundo e depois tem de ir se reciclando para se adaptar ao mundo que fabricou.
Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo.
O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral.


A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado.
Quer a aproximação de dois inteiros e não a união de duas metades. E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade.
Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva.


A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afetivas são ótimas, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem.
Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado.


Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força.
Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo.
Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.


O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável.
Nesse tipo de ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado.
Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém.
Algumas vezes, você tem de aprender a perdoar a si mesmo...


Autoria de Flávio Gikovate

http://maisvoce.globo.com/mensagem.jsp?id=16274




quarta-feira, março 05, 2008

Carros


Eu queria conhecer o critério de criatividade das propagandas de pasta de dente, cigarro, cerveja e carro.

São todas rigorosamente iguais, seja qual for a marca.


Pasta de dente: gente brincando e, portanto, sorrindo. Até aí tudo bem.

Nas de cigarro, alguém praticando esporte. Não é um paradoxo?

Nas de cerveja: mulheres. Será verdade ou ilusão?


Agora, propaganda de carro é que me perturba de verdade.

Não fumo, raramente bebo e escovo os dentes três vezes por dia, portanto não tenho muitos problemas com esses temas.

Mas com carro é diferente.


Tenho sido castigado com momentos intermináveis dentro dele e acho que alguma coisa está diferente da realidade.

Vocês já repararam que em todas as propagandas de carro a cidade está deserta e o sujeito pode dirigir tranquilamente pelas ruas, curtindo seu carrão?

Isso não é real! Que cidade é essa? Onde é que fica, pra eu me mudar pra lá?

A realidade é a de cruéis engarrafamentos quilométricos, trânsito lentíssimo e gente dementada empalhando a passagem.


Eu me pergunto: por que ninguém teve a idéia original de fazer uma propaganda onde mostre o sujeito confortável em seu carro, no meio do engarrafamento, debaixo de um sol escaldante, sem nem se preocupar com o que ocorre à sua volta? Um carro que agüente o “primeira-segunda-primeira-segunda”?


O resto pra mim é ficção científica.