sábado, agosto 09, 2008

Se as olimpíadas fossem no Brasil…

Teríamos uma festa de abertura pomposa, mas patrocinada por licitações escusas e falcatruas que enriqueceriam os já ricos.


Ela seria permeada pela guerra de folcloristas chatos, cada um defendendo expressões culturais sem expressão no nosso país. Em vez de “rota da seda”, não é muito mais interessante tratar da “rota do tráfico”?


Veríamos autoridades vaiadas e personalidades brigando para aparecer.


Iríamos mostrar o resultado de nossas centenas de anos de cultura: música estrangeira, calipso, axé, eletro-forró, sertaneja e futebol.


Teríamos uma das melhores emissoras de televisão do mundo mostrando as várias etnias que formam a nossa sociedade: pardos, pobres, excluídos, explorados, índios dizimados, meninos de rua, políticos corruptos, traficantes e vítimas sociais.


A festa faria a festa para catadores de latinhas e flanelinhas e quem não tivesse seu carro roubado no estacionamento poderia ir pra casa feliz, sentindo-se encaixado no mundo, sem saber o quanto ainda falta para a verdadeira civilidade.


Isso tudo, se não faltasse luz no estádio na hora da cerimônia ou a queima de fogos não atingisse ninguém, causando uma tragédia que terminaria no corredor de um hospital lotado. Conhecemos a triste combinação das licitações que tem o critério do menor preço: a menor qualidade e o maior risco possível.


Depois da abertura das olimpíadas na China fiquei ainda mais fã dos chineses e de sua cultura milenar, mas ainda mais desconfiado da nossa, ainda a engatinhar.


Ainda bem que as olimpíadas não foram aqui e sim na China. Eu ia apertar meus olhos para não ver nada disso.


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