quarta-feira, setembro 24, 2008

Xadrez do amor



Para quem gosta de xadrez, há uma variação desse jogo muito mais sutil, porém muito mais difícil, chamada “xadrez do amor”.



Nesse jogo, o tabuleiro é muito mais extenso e o acompanha a qualquer lugar. Você pode estar jogando xadrez do amor sem perceber, inclusive à distância. Por isso, ele exige muito mais atenção, pois há muito mais como errar e acertar.



Nele, as peças não são pretas e brancas. Tudo é meio cinzento, meio indefinido, furta-cor, de variados matizes. Seus movimentos podem ser claros e objetivos ou sutis, suaves, melindrosos, vacilantes, subliminares, imperceptíveis.



Quando as conseqüências de seus movimentos não implicam apenas o binômio vitória-derrota, o ir ou não para a caixa, mas sim a conquista ou perda de um coração, as regras não ficam nada claras, mas, mais das vezes, caóticas e assustadoras.



Não perceber claramente as “cores” das peças e o significado de seus movimentos confunde a nossa percepção de quem está ganhando e de quem está perdendo. Quais são os lados desse jogo? Quem são os times? Há opositores? Afinal, o que é “perder” e o que é “ganhar”?



Não dá para saber, dá apenas pra sentir o momento da amarga derrota, quando o rei deita sozinho sobre o seu tabuleiro, ou da doce vitória, quando ele ganha a companhia da rainha ao seu lado.



Por não ter regras tão definidas, o xadrez do amor também permite uma leveza, uma fluidez, uma flexibilidade, uma suavidade, uma adaptação muito maior de movimentos.



E nem adianta pensar muito. Nesse jogo o raciocínio pouco importa. Aliás, o xadrez do amor é muito pouco racional e muito mais intuitivo. Nele a lógica é invertida. Nele tomamos atitudes “irracionais”, traçamos rotas tortas, fazemos o impensado, o ilógico, mas atingimos objetivos certos, desejados, e às vezes, não imaginados até mesmo por nós.



Boa sorte a todos que jogam xadrez do amor com o coração e escutam a sua verdadeira razão.


domingo, setembro 07, 2008

Fábulas




Hoje há uma aparente diferença quanto às expectativas dos sexos, desde a nossa tradicional compreensão até os dias atuais.


Na boba comédia “um conto quase de fadas”, o príncipe chega num cavalo branco, vê a princesa deitada num caixão de cristal e, sob os olhares dos bichos da floresta, acorda-a com um beijo.


Quando ela abre os olhos, já está de mau-humor, vai logo reclamando da demora do seu salvamento, dizendo que não poderia esperar outra coisa dos homens, que são todos uns molóides e manhosos.


Mesmo assim, ele, apaixonado, faz mil promessas. Fala que vai levá-la para o seu castelo, que vão se casar, que ela será “a sua princesa” e a toma no colo.


Mas ela imediatamente pula dali e pergunta: “do quê você está falando, quem disse que eu quero esse negócio de ser sua princesa? Grande vantagem essa! Pensa que eu não leio jornais? Já estou até vendo: festas, caçadas, aventuras em terras distantes, enquanto eu fico trancada no castelo. Depois vem filhos, adultério, separação e advogados. Eu tenho meus sonhos, meus anseios, minha carreira pela frente e ela não tem nada a ver com você. Muito obrigada”. E cai na estrada sozinha, deixando o príncipe com cara de tacho.


Para equilibrar, outro dia me mandaram a menor fábula do mundo, que conta: um sujeito encontra uma garota e pergunta “quer casar comigo?”. Ela se vira e diz “não”. Então ele foi feliz para sempre… podia sair com os amigos e chegar a hora que quisesse, não precisava pisar em ovos, responder perguntinhas capciosas nem sofrer com flutuações de humor mensais, etc, etc, etc …


Contra isso, dizem que estatisticamente o número de casamentos aumentou. Só não avisaram que o de divórcios também! E o mais grave de tudo: 100% dos divórcios começam num casamento!


Por que isso está acontecendo? Por que houve um desencanto dessa magnitude? Será que as nossas expectativas, de um para com o outro, mudaram tanto assim que não há mais pontos em comum suficientes para manter homens e mulheres unidos por muito tempo? Será nos encontramos no momento do desencontro, onde homens e mulheres caminharão para direções diferentes e sozinhos, depois de curtos períodos juntos? Será que, por não nos compreendermos, viveremos em sucessivos encontros e despedidas? Será que esses eventuais encontros serão não mais que tentativas temporárias de fazer dar certo, até aquele fatídico dia da separação ou da conformação?


Ou serão verdadeiras tentativas de fazer dar certo, de caminhar adiante, de viver, de experimentar, de aprender, mesmo que errando?


Hoje não ofereço respostas ou conclusões, apenas reflexões. Reconheço a minha incapacidade para lidar com o tema. Como diz a sapiência de Ana Carolina, “eu que não sei quase nada do mar, descobri que não sei nada de mim”.