segunda-feira, abril 06, 2009

Gentileza e Gente Lesa




Diz a lenda que o padre Priestley, descobridor do “oxigênio”, anotou em suas pesquisas: “Acabei de descobrir um gás novo. Até agora, apenas eu e meus ratos o respiramos”. Mal sabia o padre Priestley que havia respirado aquele gás por toda a sua vida.


Nunca me esqueci dessa história porque ela me levou a refletir que a graça do óbvio não é dizer o que todos já sabem, mas mostrar o que estava diante dos olhos e ninguém percebeu até então; de informar o que todos não sabem que já sabiam e que agora só é óbvio porque você falou.


É por isso que o filósofo leva vantagem, pois percebe o mundo à sua volta de uma maneira que as outras pessoas já não conseguem mais porque se entregaram à perplexidade. Para elas tudo ficou comum, tudo ficou óbvio, já sabemos de tudo que nos cerca, não há mais o que se questionar, não há mais novidades.


Digo tudo isso pra justificar também dizer o meu óbvio sobre o problema do trânsito nas cidades. Acredito que muitos já tenham percebido, mas não se deram conta de que é possível sintetizar a questão numa simples proporção matemática: gentileza / gente lesa. Explico.


O caos no trânsito pode ser explicado por um fenômeno bastante freqüente na atualidade e que ali ganha proporções quilométricas: o baixíssimo índice de atos de gentileza, de camaradagem, de solidariedade e de fraternidade, em nome da esperteza, da cortada, da distração, do egoísmo, da mesquinhez, da megalomania e do egocentrismo. A pura e simples pressa para atrasar os outros.


Ao mesmo tempo, temos um acentuado índice de pessoas destituídas das mínimas condições cerebrais de conduzir a si próprios, quanto mais a um veículo em velocidade entre tantos outros.


Eis o meu óbvio: a situação do trânsito decorre da injusta desproporção entre o que se faz e o que se deveria fazer; entre a gentileza e a gente lesa.


Boa sorte a todos que praticam a gentileza, pois certamente não participam da outra metade do problema.


2 comentários:

Unknown disse...

Infelizmente eu só tenho a lamentar..
Uma vez que aqueles praticantes da gentileza(que não participam da outra metade do problema)passam a conviver com os problemas constantes da "gente lesa"(que participam praticamente de TODO o problema), torna-se algo bem natural de observar certas atitudes parecidas. O egoísmo, a mesquinhez, a megalomania e o egocentrismo são características marcantes da gente lesa que normalmente contagiam, mesmo sem querer, aqueles que praticam o bem.
Pra mim, é tão irritante dirigir nesta cidade de lesados que por oras penso que fui atingida pela 'doença da leseira'...mas, acabo me dando conta que NADA mudará a minha essência gentil!!
E, descobri que gentileza não é hereditário...nem se aprende em casa, tampouco nas escolas e nas auto-escolas.
Ser gentil é um dom que se aperfeiçoa...dia após dia...gesto após gesto. É necessário, acima de tudo, que se tenha vontade de praticá-la!!

Kal-El disse...

Eu também sinto isso às vezes. Sinto como se a única saída fosse beber da poção da lezeira e me tornar igual aos tantos que nos cercam. Sinto como se fosse a única saída de paz de espírito. Sinto como se o natural fosse o torpor e a agressividade e me sinto convidado a participar desse todo.

Mas a sensação de estar descolocado do contexto, de ser desigual a todos os iguais, me acompanha desde que cheguei nesse planeta e tive que me disfarçar como os daqui para poder viver. Por isso não desisto e sigo minha essencia... agredida, cansada, mas mais forte que isso.

Grato pela participação.